quarta-feira, 12 de março de 2014

Chove, chave, cheiro.

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não sei dizer como me sinto. chove, mas há dias minha mente quer gritar. a chuva me acalenta, me acalma. mas, por dentro, tudo me corroi. vês? não passo de algumas palavras soltas, um pequeno período. talvez daqui a pouco. mas, sinto-me enfurecida por saber que  lá fora o mundo existe, e aqui dentro ele apenas morre. morre de quê? morre como? morre, por quê? não, não quero achar as respostas, ou melhor, não quero me deparar com as soluções. apenas quero explodir, e acalmar. quero acalmar como uma gota de orvalho. mas, a gota de orvalho seca, e a vida morre.

sinto dores em cada ponto da minha existência. por que as sinto tanto? como é possível sentir tanto, e nada ser real? como é possível tanta intensidade em uma existência, mas ao mesmo tempo não se viver nada, absolutamente nada? meu medo me corroi. meu medo me traz angústia. ao mesmo tempo, sinto uma vontade terrível de viver, de viver tão intensamente que nem mesmo uma galáxia supriria tanta ânsia de vida.

somente sofro, nesse instante em que imagino que a vida pode ser tão, tão intensa, mas apenas se concentra aqui, aqui dentro. ela quer sair. e eu perdi, perdi o que queria buscar. as luzes piscam, os olhos fogem, os cheiros são inóspitos, mas seres transitam por todos os lados o tempo todo. não, não penso em sumir. quero a todo momento a luz. estes seres estão também sedentos de vida, mas esqueceram-se porque se afundaram em suas vidas miseráveis. e mesmo assim, vivem. como conseguem? se a vida é tão triste a eles, porque a vida não é deles. então, como conseguem? são felizes. e eu? por que não? que me falta? sei, não posso querer me sentir superior a estes seres, mas, que me falta? por que não?

penso que quero amar. meu amor, minha vontade do amor. ela é tão imensa, tão infinita, que não consegue ser em dois. durante tanto tempo esse amor se quis ser, que até minha forma deformou. não sei mais o que é. mas está dentro de mim.

não, não posso dizer tanto. tanto que me sinto culpada. simplesmente por achar que não devo fazer o que sinto vontade de fazer. sinto-me incapaz. e então sei que o que me tanto corroi é a vontade absoluta de amar, uma vontade tão infinita, que não se encontra com nada. é o amor que existe numa dimensão que somente aquele que encontrar a chave poderá consumi-lo. e há em mim um desejo tão forte, tão formidável, de que esse prêmio, a chave, seja entregue a esse que simplesmente ame. sem medo.

por isso eu penso poder dizer-lhe, dizer que, apenas, venha. mesmo sabendo que talvez. ou mesmo querendo crer que virá, e sonhando. não vou enlouquecer, mas é amargo o gosto que sinto em minha saliva, que saliva com ânsia, com ansiedade de amor.

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