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Por Daisaku Ikeda.
(...) As flores desabrocham na primavera ou a neve cai no inverno. Essa é apenas uma das fases da vida (...) como um brilhante novo Sol surgindo no amanhecer.
Os sofrimentos do amor, também, são muitos e variados. Cada pessoa tem seu próprio caráter e personalidade, formação e circunstâncias diferentes. Dessa forma, não há regras que se apliquem a todos. Além disso, cada qual é perfeitamente livre para se apaixonar ou sentirem-se atraídos por alguém. Com quem uma pessoa deseja se relacionar é uma questão de escolha pessoal. Ninguém absolutamente tem o direito de se imiscuir nas questões particulares dos outros.
Porém, como uma pessoa com anos de experiência, gostaria e salientar como é importante não perder de vista o propósito de seu próprio desenvolvimento pessoal.
O verdadeiro propósito de seus estudos e a participação em clubes ou associações esportivas é construir a base de uma forte personalidade. Os problemas também - sejam a falta de autoconfiança ou um relacionamento íntimo com um amigo - possibilitam a uma pessoa desenvolver um forte caráter.
O mesmo pode ser dito sobre o amor. O amor deveria ser a força que auxilia as pessoas a expandirem suas vidas e a manifestarem a seu potencial inato com uma vitalidade dinâmica e revigorante. Isto seria o ideal, mas como diz o ditado "O amor é cego", as pessoas normalmente perdem de vista seus objetivos quando se apaixonam.
Se o relacionamento estiver causando preocupações a seus pais, ou fazendo com que negligenciem os estudos e tenham um comportamento prejudicial, então vocês e as pessoas com quem estão relacionando são apenas uma influência negativa e um impedimento um para o outro. Nenhum dos dois será feliz se acabarem apenas ferindo um ao outro.
(...) O importante, portanto, é não perder de vista o objetivo fundamental de desenvolver vidas realmente valiosas e significativas para nós mesmos.
(...) A questão é: Essa pessoa o faz empenhar-se mais no estudo ou o desvia dele? Sua presença o torna mais determinado a devotar uma energia ainda maior às atividades escolares, ser um amigo melhor e um filho mais responsável? Essa pessoa o inspira a concretizar seus objetivos futuros e a trabalhar para atingi-los? Ou essa pessoa é o foco de suas atenções, obscurecendo tudo o mais - suas atividades escolares, seus amigos e familiares e mesmo seus objetivos futuros?
Se estão negligenciando aquilo que deveriam fazer, esquecendo-se de seu propósito de vida devido ao seu relacionamento, então estão no caminho errado. Um relacionamento saudável é aquele em que duas pessoas se encorajam mutuamente para atingir seus respectivos objetivos enquanto partilham suas esperanças e sonhos. Um relacionamento deve ser uma fonte de inspiração, de revigoramento e esperança.
Dante Alighieri (1265-1321), um dos maiores poetas do Ocidente, teve como fonte de inspiração uma jovem moça chamada Beatriz, a quem amava à distância desde criança. Um dia, após muitos anos separados, Dante, com dezoito anos, reencontrou-se com ela na rua. Posteriormente, ele compôs um poema sobre sua alegria pelo reencontro naquele dia, intitulado A Vida Nova. Em seus esforços para expressar seus sentimentos pela jovem, ele criou uma nova forma poética. Sem dúvida, Beatriz despertou o potencial artístico de Dante.
Entretanto, ela permaneceria como um amor não correspondido, pois casou-se com um outro homem e morreu ainda muito jovem. Mas Dante jamais deixou de amar Beatriz. Foi esse amor que, fundamentalmente, possibilitou-o a fortalecer e a elevar a capacidade de seu coração a algo realmente nobre e sublime. Em sua obra prima, A Divina Comédia, Dante retrata Beatriz como um ser gentil e benevolente que o guia ao Céu.
Naturalmente, Dante viveu numa época e num país diferentes (...). Mas acredito que muito pode ser aprendido desse grande poeta que permaneceu fiel a seu próprios sentimentos, fossem eles recíprocos ou não, e transformou-os na inspiração condutora de sua vida. Acredito realmente que o amor deve ser uma força positiva para nossa vida, uma força motriz que nos estimula a viver corajosamente.
(...) Há tantas visões sobre o amor quanto pessoas! Acho difícil dar uma opinião sobre o amor que satisfaça a todos por igual. O amor é uma questão complexa que reflete a atitude e a filosofia de cada pessoa para com a vida. Eis porque acredito que as pessoas não devem se envolver em relacionamentos de forma leviana. É como diz um ditado japonês: "O amor não é um jogo".
Se o amor pudesse ser encarado logicamente, todos os sofrimentos que ele causa desapareceriam do mundo. Porém, o importante é que, sem respeito, nenhum relacionamento durará muito tempo nem duas pessoas serão capazes de extrair o melhor uma da outra.
O ex-permiê chinês Chu Enlai e sua esposa, Madame Deng Ying-chao, eram muito admirados e considerados um "casal modelo". Embora infelizmente ambos tenham falecido, sempre trataram a mim e à minha esposa com muito afeto.
Quando seu marido morreu, Madame Deng depositou a dedicatória “Chu Enlai, companheiro de luta” próxima ao seu caixão. "Companheiro de luta" - que sentimento profundo está imbuído nessas palavras! Nelas, reflete-se seu mútuo comprometimento e o respeito que tinham um pelo outro como companheiros e a luta que partilham lado a lado para a concretização de um grande objetivo. Talvez esse exemplo de casal ideal os ajudem a refletir um pouco sobre a natureza do amor. Em vez de sucumbir à paixão superficial e fechar-se num mundo onde apenas os dois existem, é muito mais saudável aprender com o companheiro que admiram e continuar a fazer esforços para se aprimorarem.
Antòine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, escreveu: "Amor não é olhar-se um ao outro, é olhar juntos na mesma direção". Isso significa que um relacionamento é mais duradouro quando ambos partilham valores e crenças similares. Os homens também devem respeitar as mulheres como pessoas. Isso é uma prova de maturidade.
(...) A juventude é preciosa. E cada um (...) é uma pessoa insubstituível, de valor inestimável. (...) Espero que cada um siga resolutamente seu próprio caminho da vida. Além disso, por favor, não sucumbam à visão de que o amor é tudo, iludindo-se com o pensamento de que o amor é tudo. Espero também que não sigam a visão distorcida de que envolver-se num relacionamento tumultuado e obsessivo é um "doce sofrimento".
Há uma época para tudo na vida - uma época para ser jovem, uma época para entrar na maturidade, uma época para o casamento e assim por diante. Mover-se um passo de cada vez em cada fase da vida está de acordo com a razão.
É comum também que muitos amores, que acreditávamos ser uma paixão eterna, ao seu término, acabem se reduzindo a uma simples ilusão. O que aprendemos por meio do estudo, por outro lado, é muito mais duradouro. É importante, portanto, que a chama da curiosidade intelectual jamais se apague.
Por favor, não vivam sem direção, ao contrário, persigam uma vida de significado e propósito. Assim como uma casa, por exemplo, que se torna inabitável se o seu alicerce não for cuidado, ou como certos tipos de arroz que não cozinham perfeitamente quando não são bem lavados, o tipo de resultado que se pode esperar quando se toma esses atalhos ou se negligencia os esforços apropriados é claro como o cristal. Nesse sentido, certamente não é sábio tentar agir e comportar-se como um adulto antes que possam cuidar de si adequadamente.
O importante é que façam o melhor nas tarefas em que tem de se concentrar agora. Através desses esforços, vocês crescerão como indivíduos com um futuro realmente maravilhoso à frente. Espero que não abandonem e joguem seu vasto e ilimitado potencial antes que tenham a chance de florescer. Muitas pessoas podam seu brilhante potencial porque perseguem cegamente o amor.
(...) Os acontecimentos do dia-a-dia tendem a ser comuns e sem estímulos. Os esforços diários podem ser exaustivos e nem sempre prazerosos. Porém, quando se apaixonam, a vida lhes parece extremamente excitante. No entanto, recorrem ao amor só porque estão aborrecidos, e conseqüentemente desviarem-se do caminho que deveriam seguir, então esse amor nada mais é do que escapismo. O que as pessoas estão fazendo é refugiar-se em um mundo de sonhos, acreditando que essa ilusão é algo real.
Mesmo que tentem usar o amor como fuga, a euforia provavelmente não durará muito tempo. Além do que, poderão deparar-se com problemas ainda maiores em meio a uma grande dor e tristeza. Por mais que tentem, nunca conseguirão fugir de si mesmos. Se continuarem a fraquejar, o sofrimento os seguirão por onde quer que seja. Jamais encontrarão a felicidade se não transformarem seu interior. A felicidade não é algo que alguém, por exemplo, a pessoa amada, pode dar a vocês. Vocês têm de conquistá-la por si próprios. E o único caminho para isso é desenvolvendo sua própria personalidade e capacidade como seres humanos, maximizando o seu potencial.
Enquanto ainda são jovens, sua bagagem de experiência é muito limitada e vocês podem ainda não ter descoberto em que área seus talentos se adequam melhor. É fácil cair na armadilha de pensar que nada pode ser mais desejável que o amor. Mas, lamentavelmente, não é assim (…).
Também gostaria de acrescentar que lançar-se a um relacionamento como uma forma de fuga é algo extremamente desrespeitoso para o parceiro quanto para si.
De qualquer forma, o essencial é não se precipitarem. Vocês são jovens. O importante agora é empenhar-se arduamente em desenvolverem-se como verdadeiros seres humanos. Cada um possui uma maravilhosa missão que somente vocês podem realizar.
As pessoas que sofrem em todo o mundo estão aguardando pelos seus bravos empreendimentos. Negligenciar a própria missão e buscar somente prazeres pessoais é um sinal de egoísmo. É impossível para um indivíduo egoísta e egocêntrico amar realmente outra pessoa.
Por outro lado, se amam alguém de verdade, então, por meio desse relacionamento, podem se tornar uma pessoa cujo amor se estende a toda a humanidade. Esse relacionamento serve para fortalecer, elevar e enriquecer o seu interior. Definitivamente, os relacionamentos que vocês formam são um reflexo de seu próprio estado de vida. O mesmo é verdadeiro com relação à amizade. Somente na medida em que aprimoram a si próprios é que podem esperar criar laços sinceros no futuro.
(...) Cada um de vocês é infinitamente precioso. Portanto, espero que tratem a si próprios com o máximo de respeito. Por favor, não sigam um caminho que lhes causará sofrimento, mas tomem a estrada que seja melhor ao seu bem-estar. O verdadeiro amor existe somente entre duas pessoas sinceras, maduras e independentes. É essencial, portanto, que trabalhem para aprimorarem-se primeiro.
(...) Procurar a todo tempo a aprovação do outro é rebaixar-se demais. Em uma relação assim, não há mostras de consideração nem sinais de um sentimento profundo e muito menos de amor. Se a voz de seu coração está lhes dizendo "você não merece uma relação como essa", espero que tenham a coragem e a dignidade de decidirem se é melhor correrem o risco de serem desprezados pela outra pessoa ou suportarem um relacionamento infeliz.
O verdadeiro amor não consiste de duas pessoas apegadas uma a outra; ele somente pode existir entre duas pessoas fortes e seguras de sua individualidade.
Uma pessoa vazia só terá relacionamentos vazios. Se quiserem viver um verdadeiro amor, é importante primeiro desenvolver uma forte identidade.
O verdadeiro amor não é fazer tudo o que a outra pessoa quer ou fingir ser o que não é. Se alguém ama verdadeiramente vocês, essa pessoa não os forçarão a fazer nada contra sua vontade nem os envolverão em alguma atividade perigosa. Além disso, eu particularmente gostaria de ver os homens agindo como verdadeiros cavalheiros e tratando as mulheres com cortesia e amabilidade.
Os homens devem sempre se lembrar de respeitar as mulheres, fazendo o máximo para apoiá-las. Em vez de depender das mulheres como crianças, deveriam ser fortes, benevolentes e adultos o suficiente, preocupando-se com a felicidade de suas companheiras. Essa é a qualidade que devem cultivar; essa é também uma expressão do verdadeiro amor.
(...) Não importa o quanto aparentem estar felizes, ou o quanto seriamente pensam sobre o relacionamento, se permitem que sua vida amorosa consuma todo o seu tempo e energias em detrimento do próprio crescimento, então estão apenas se divertindo com um jogo. E se estão apenas jogando jogos, então suas vidas serão tal qual um jogo.
Independentemente do número, se ele é multiplicado por zero, o resultado inevitavelmente é zero. Ter um relacionamento que faça anular os valores da vida é realmente lamentável.
(...) Não importando o quê, deve-se sempre viver corajosamente. Não devem ter um coração fraco.
A juventude é uma época para se avançar bravamente rumo ao futuro. Não se desviem desse curso, não recuem nem se escondam nas sombras.
(...) É importante que se tornem fortes. Se forem fortes, mesmo a tristeza se tornará uma fonte de crescimento, e o que os fez sofrer purificará suas vidas.
A verdadeira essência da vida somente se manifesta quando passamos pelos abismos mais obscuros do sofrimento, quando imaginamos que seu peso nos esmagará.
Precisamente porque enfrentaram grandes sofrimentos é imperativo que continuem vivendo. O importante é continuar avançando. Se vocês utilizarem seu sofrimento como uma fonte de crescimento, se tornarão seres humanos de grande profundidade e amplitude, essa será a colheita de sua dor e sofrimento. Mantenham suas frontes erguidas.
(...) Cada um é livre para viver da forma que quiser e cada um tem uma personalidade diferente. Porém, penso que é vergonhoso passar a juventude constantemente procurando conquistar alguém do sexo oposto.
(...) Tenho certeza que vocês ainda têm muitas questões, mas o fato é que um futuro ilimitado está diante de vocês. Não há necessidade de se apressarem em nada, não precisam se apressar para crescerem.
(...) Quer essa pessoa saiba ou não o que vocês sentem em seus corações, com o tempo esses sentimentos se desenvolvem e amadurecem como um excelente vinho. Quando se tornarem adultos, as memórias de sua juventude os envolverá como uma bela fragrância.
Sinto realmente que essas experiências são um meio pelo qual vocês se tornarão pessoas de grande caráter.
Brasil Seikyo, Edição 1416. Publicado em 07/Junho/1997, pg. 4.
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