quarta-feira, 12 de novembro de 2014

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tristeza, sai de mim.
hoje o sol entrou pela janela
com pequenos fogos no vento
meu coração ardeu
não de calor
é aquilo que penso
quando lembro que sinto
a falta.
hoje acordei com a luz
do sol na janela
era dia
que me disse que queria
entrar no meu coração
anoitecido.
hoje senti
senti como nunca se senti
há algum tempo
em poucas frações do espectro
aquela dor da saudade.

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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

É flor do mar

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e quem não tem vez?
o coração não tem vez.

a cor do corpo se desfez
e correu o sangue para o mar
onde a baleia comeu o coração.

o amor matou o humano
e o humano esqueceu

amar não se aprende
na bula do remédio.

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é flor, de florescência
é flor do dia, do amanhecer
é a flor, que renasce no pau cinza
que o fogo queimou.

é ipê, lírio, flamboyant
sakura, rosa, azaleia.

é flor. flor igual do Sol.
é flor pura do coração
que ia ser comido pela baleia
mas fugiu para encontrar a flor

a flor brilha e tem cheiro
cheiro de mato
cheiro de chuva
cheiro doce.

a flor desmente
o humano que esqueceu
e aprendeu na bula

e a flor pegou na mão do Sol
chamou a Lua
que, juntos,
reinventaram o amor.

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sábado, 31 de maio de 2014

O centro de tudo no meio do submundo metropolitano de pedra

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Esse centro de São Paulo é realmente revelador. Nunca pensei que eu fosse viver nesta cidade, e, mais ainda, vivê-la como vivo. É um lugar que posso amar e odiar. E esse centro, velho com uma vida cotidiana que se renova resistindo, combatendo e aderindo. O novo e o velho. O moderno e o antigo. O antigo moderno, tudo no mesmo metro quadrado.

Há quase cinco anos, daqui três meses, me mudei para cá. Me mudei, mudei. E isso foi numa empreitada que eu não imaginava, que eu não queria. Nunca quis. Mentira. Eu quis viver o novo mundo, e eu mal esperava ter este mundo tantas contradições. E mais, que fosse me provocar tantas emoções, tanto amor e ódio.

E esse centro, diurno dos comerciantes, do proletariado, dos artistas e das dançarinas. Dos moradores de suas ruas invadidas de pessoas e outros seres, moradores invisíveis, alegóricos, que compõem o figurino, o cenário de uma vida vivida e encenada. É a metrópole que se revela, no mundo e no submundo, diurno e noturno. O submundo noturno da morte, do crime, das vielas escurecidas pelas paredes de gelo. O submundo noturno dos prazeres.

É a metrópole, a urbe, a pólis. E o seu centro, por onde jamais pensei andar, onde jamais pensei que eu fosse sobre-viver. Esse centro é revelador, é fantástico, e escroto. É o oposto de tudo, contendo tudo de tudo.

Eu vivo, há cinco anos. E a cada dia vejo uma vida submundana diferente, numa experiência cotidiana que só a coragem e a ausência do medo da selvageria de pedra podem me gerar. Não tenho medo dos monstros e entidades mundanas da urbe cotidiana. Justo eu: pura, meiga, doce, pequena, menina, santa, frágil, sensível. Nada, não. Mudei. Vi a cidade. Descobri a polis metropolitana.

Às 22:30, mais ou menos, do dia depois da abolição, saindo do trabalho, respirando o cotidiano submundano de uma gente ainda escravizada, que ainda insiste em viver, no centro de tudo.

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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Em mim, faltou.

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Faltou você
Você quem?
Não
Não faltou.
Cá estou
Vivo em mim.
O bonito
Se revela aqui
E você
Venha comigo
Somente
Quando
Se quiser.
Mas eu
Cá estou.
Em mim
Dentro daqui
Cá vivo
Acendo
E ardo.

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Dia de Lenine.

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As famílias reunidas mostravam o domingo do churrasco, na rede, no parque.
As crianças, a bola, os gritos, as risadas.
Era um parque, com um clube.
Coisa difícil de se ver na metrópole de terceiro mundo.
Não. Existe, e eu vi.
Vi o cotidiano daquelas pessoas mergulhadas no justo lazer depois de seis dias de martírio e labuta.
Do outro lado, o som, as notas puras, inocentes, doces e agudas dos violinos.
Sinto.
Não tenho adjetivos.
Não há adjetivos para a linguagem universal da música.
Mas a mim também faltam...
As notas estridentes dos cellos, tambores e trombones.
A percussão vibrava.
E ele.
Ele estava lá.
Não no meio, um pouco mais ao lado, no meio.
Forte, imponente, inconfundível, ahhh...
Para fazer meu coração pular, querer sair pela boca, apertar doído de sentir tanto.
Estava ali...
De graça, no parque, para o povo.
Rico, pobre, preto, índio ou branco, periférico ou da nobreza.
Estavam lá, todos, em um único coro pedindo “... um pouco mais de paciência“, e clamando “... até quando o corpo pede um pouco mais de alma, eu sei, a vida é tão rara...“.
Ali.
Um domingo, no parque.
Estava frio, como que para nos fazer ficar mais com nós mesmos e em nossa calma, nossa alma, mais serenos, como o sereno que caía.
As famílias com os seus aos risos, ele lá, encantando o mundo com sua voz estrondosa e seu requebrado excitante, e eu...
Eu estava, enfim, estava.
Simplesmente estava, e respirava.
Tudo o que eu queria era sentir.
Buscar dentro de mim um pouco mais de alma, um pouco mais de calma.
E me encontrar.
E, só, que restava?
Chorei.
Sorri novamente, acabou, levantei, e segui, sentindo.

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E quem?

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E quem
Ao nascer
Vai
Dizer
Que é
Tão
Arriscado
Viver?

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terça-feira, 18 de março de 2014

Não vês?

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Por que te espero?
Sei que não vens.
Sei que já dirá
Que não é mais assim.
Então
Por que espero-te, meu amor?
Se eu pudesse,
Diria-te que te quero
Tanto quanto
Meus pulmões querem o ar
Quanto minha pele quer a água
Quanto minha alma quer vida.
Quero-te.
Mas não vens.
Não vês?
Não.
Não vens.
Então, por que?

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domingo, 16 de março de 2014

Viva em mim.

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Somente para raros
Rara não sou
Devo ser
Mas estou
Ao ponto de me entorpecer
De vida
Da vida que me restou
E da que me falta
Que tanto me cabe
E mais que por, enfim,
Aqui (des)aparece.
Não, não vá embora.
Por favor, fique.
Viva em mim
Viva aqui.

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Tento.

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Estamos tontos
Não vemos o que respiramos
Nem o que sentimos
Me disseram ontem
Que o que pára a onda
É a areia
O que é a minha areia?
O que pára a minha onda?
Estamos cegos
Ausentes de sensações
E eu, o que cabe a mim?
Não posso querer crer
Não posso crer
Em mais uma molécula
Em mais nada
Se é amor
Se é só o vento
Se é minha areia
Ou as sombras da caverna
Não posso mais
E vou, para bem longe
Voltar para mim.

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quarta-feira, 12 de março de 2014

Chove, chave, cheiro.

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não sei dizer como me sinto. chove, mas há dias minha mente quer gritar. a chuva me acalenta, me acalma. mas, por dentro, tudo me corroi. vês? não passo de algumas palavras soltas, um pequeno período. talvez daqui a pouco. mas, sinto-me enfurecida por saber que  lá fora o mundo existe, e aqui dentro ele apenas morre. morre de quê? morre como? morre, por quê? não, não quero achar as respostas, ou melhor, não quero me deparar com as soluções. apenas quero explodir, e acalmar. quero acalmar como uma gota de orvalho. mas, a gota de orvalho seca, e a vida morre.

sinto dores em cada ponto da minha existência. por que as sinto tanto? como é possível sentir tanto, e nada ser real? como é possível tanta intensidade em uma existência, mas ao mesmo tempo não se viver nada, absolutamente nada? meu medo me corroi. meu medo me traz angústia. ao mesmo tempo, sinto uma vontade terrível de viver, de viver tão intensamente que nem mesmo uma galáxia supriria tanta ânsia de vida.

somente sofro, nesse instante em que imagino que a vida pode ser tão, tão intensa, mas apenas se concentra aqui, aqui dentro. ela quer sair. e eu perdi, perdi o que queria buscar. as luzes piscam, os olhos fogem, os cheiros são inóspitos, mas seres transitam por todos os lados o tempo todo. não, não penso em sumir. quero a todo momento a luz. estes seres estão também sedentos de vida, mas esqueceram-se porque se afundaram em suas vidas miseráveis. e mesmo assim, vivem. como conseguem? se a vida é tão triste a eles, porque a vida não é deles. então, como conseguem? são felizes. e eu? por que não? que me falta? sei, não posso querer me sentir superior a estes seres, mas, que me falta? por que não?

penso que quero amar. meu amor, minha vontade do amor. ela é tão imensa, tão infinita, que não consegue ser em dois. durante tanto tempo esse amor se quis ser, que até minha forma deformou. não sei mais o que é. mas está dentro de mim.

não, não posso dizer tanto. tanto que me sinto culpada. simplesmente por achar que não devo fazer o que sinto vontade de fazer. sinto-me incapaz. e então sei que o que me tanto corroi é a vontade absoluta de amar, uma vontade tão infinita, que não se encontra com nada. é o amor que existe numa dimensão que somente aquele que encontrar a chave poderá consumi-lo. e há em mim um desejo tão forte, tão formidável, de que esse prêmio, a chave, seja entregue a esse que simplesmente ame. sem medo.

por isso eu penso poder dizer-lhe, dizer que, apenas, venha. mesmo sabendo que talvez. ou mesmo querendo crer que virá, e sonhando. não vou enlouquecer, mas é amargo o gosto que sinto em minha saliva, que saliva com ânsia, com ansiedade de amor.

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sexta-feira, 7 de março de 2014

Tanto.

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é tanta
coisa
que
nem
causo
sei
que se
conta
mais.
é tanta
coisa
que
nem
mais
sei.

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Só mente em mim.

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talvez só seja uma nuvem
que se desfaz quando acordo
quando estava sonhando
que te beijava.
se não é, então pra que talvez seja?
então acordo; e sonho.
chega?
quem sabe?
se o que quero só é ali
dentro do meu sonho
dentro de uma nuvem
no pote de ouro do pé do arco-íris.
por quê?
porque não existe.
somente em mim.

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