quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sereia da beira do mar

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Vim da beira do mar
Madeira já tinha ficado
Não, nunca se foi...
Madeira é o meu rio

Vim da beira do mar
Saí do Madeira
E busquei outros rios
Até mares

Passei pelo Tietê
Pelo Ipiranga
Pelo Pinheiros e Tamanduateí
Até no Vale do Anhangabaú
Quase me perdi

Mas lá, no mar, te encontrei
Subi e desci morros, florestas
Nadei e nadei
Contigo.

Encontrei rios
E aquele mar

Janeiro de tantos rios
Rios salobros
O sal na pele
Havia você

Vim da beira do mar
Da beira do Madeira
Desaguei no mar
Naquele Rio de tantos medos
De tantas milhas
De tantos sonhos

De lá saí
Vim daquele rio
Vim da beira do mar
Para encontrar o Guamá
E o Guajará

No Guamá
Meu sonho se refaz
Rio que vira mar
Mar que vira rio

Meu Madeira e meu mar
Hoje juntos
No meu Guamá e meu Guajará

Mesma água, mesma pedra
Mesmo sal,
Mesma fonte, mesma foz...
Dentro do meu coração

Rio-mar, me traz meu coração
Que naquele Rio ficou
E me faça re-mar
Me faça a-mar.

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Alguma coisa sobre o tempo


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Nos últimos tempos eu tenho refletido sobre muitas questões em relação às pessoas, e sobre mim. E, observando de modo mais crítico e de uma maneira mais sensível as situações do cotidiano, vem à minha mente um conselho que jamais eu devia ter desperdiçado, tanto dado pela minha mãe quanto pelo meu pai. Esse conselho me veio à mente, sobretudo depois de pensar muito sobre coisas que eu queria muito. Em certas vezes me deparei com situações em que eu precisava abrir mão do que era mais importante para mim naquele determinado momento. Em certas vezes eu quase abri mão de tudo o que era importante para ter aquilo que, na realidade, não era tão importante assim. Hoje, depois de tantas situações, cotidianas, inclusive, pude entender o conselho que meus pais sempre me deram. Eis o conselho: "Filha, não tenha pressa". Depois de tantas situações, entendo perfeitamente que meus pais, ao falarem isto sempre para mim, queriam que eu entendesse o real significado do tempo... O mundo gira e nossas vidas giram de modo igual. Passa o tempo e, de repente, estamos no mesmo lugar. Passa o tempo e vemos que aquilo para o que dávamos tanta importância hoje já não faz a menor diferença. Passa o tempo, e as pessoas passam por nossas vidas, como oportunidades são perdidas também. Então vem aquela velha e cruel pergunta: "E se...". E se eu tivesse ficado mais um pouco? E se eu não tivesse feito tal coisa? E se eu tivesse dito não ou se tivesse dito sim? E se eu seguisse aquele caminho? Sim eu devia ter ido por aquele caminho... E se eu tivesse tentado? Sinais de amadurecimento. Esses sinais percebemos quando as falas dos nossos pais, tão preocupados com a gente, começam a fazer todo o sentido. De fato, eles sempre têm razão... "Filha, não precisa ter pressa. Tudo ocorre naturalmente e ao seu tempo...". Eis que a vida, na marra, me mostra que pessoas para quem damos tanta importância por tanto tempo jamais realmente se importaram com a gente. Sinais de amadurecimento são quando a gente passa a não sentir mais o peito carregado de dor e de rancor, de mágoa... Quando a gente olha para trás e, no máximo, o que sentimos é pena. Sinais de amadurecimento são quando percebemos que o que realmente é importante para a gente está ali, nas nossas mãos, do nosso lado, não nos fere, não nos abandona, não nos esquece, não nos maltrata. É quando aquilo que o pai e mãe sempre disseram soa como o bem mais valioso que você pode levar para a sua vida, mais que qualquer diploma ou posição social. Apesar disso, não se pode dizer que os mesmos erros não serão cometidos em outros momentos... No entanto, não ter pressa e reconhecer-se como um grão de areia no universo infinito, dentro de um mundo que gira, gira, gira, e tudo o que acontece é somente o envelhecimento de nossas células, já é o primeiro passo para entender o tempo - o mais fantástico dos deuses. Por ter tido pressa, percebi que deixei caminhos para trás. E, hoje, compreendendo o que é não me apressar, eu vejo que esses caminhos existem ainda, eles estão no mesmo lugar. E hoje, tudo o que sinto é gratidão por todos os caminhos, coisas e pessoas que essa vida me trouxe. Mas gratidão maior que sinto é por finalmente poder ter começado a entender o que meus pais sempre me disseram e me dizem até hoje. Entender o que significa não ter pressa quer dizer compreender hoje que realmente certas situações para as quais dediquei tanto da minha vida, tanto do meu próprio ser, tanto do que há de mais bonito dentro de mim, simplesmente se foram, justamente porque não eram o que iria me fazer feliz. Significa compreender que é preciso amar de outra forma. Hoje eu entendo que entender o tempo é, sobretudo, entender o que é o amor. E entender o que é o amor, é, sobretudo, entender o que é a vida... E a vida é bem mais. É bem mais, definitivamente, muito mais.


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