sábado, 31 de maio de 2014

O centro de tudo no meio do submundo metropolitano de pedra

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Esse centro de São Paulo é realmente revelador. Nunca pensei que eu fosse viver nesta cidade, e, mais ainda, vivê-la como vivo. É um lugar que posso amar e odiar. E esse centro, velho com uma vida cotidiana que se renova resistindo, combatendo e aderindo. O novo e o velho. O moderno e o antigo. O antigo moderno, tudo no mesmo metro quadrado.

Há quase cinco anos, daqui três meses, me mudei para cá. Me mudei, mudei. E isso foi numa empreitada que eu não imaginava, que eu não queria. Nunca quis. Mentira. Eu quis viver o novo mundo, e eu mal esperava ter este mundo tantas contradições. E mais, que fosse me provocar tantas emoções, tanto amor e ódio.

E esse centro, diurno dos comerciantes, do proletariado, dos artistas e das dançarinas. Dos moradores de suas ruas invadidas de pessoas e outros seres, moradores invisíveis, alegóricos, que compõem o figurino, o cenário de uma vida vivida e encenada. É a metrópole que se revela, no mundo e no submundo, diurno e noturno. O submundo noturno da morte, do crime, das vielas escurecidas pelas paredes de gelo. O submundo noturno dos prazeres.

É a metrópole, a urbe, a pólis. E o seu centro, por onde jamais pensei andar, onde jamais pensei que eu fosse sobre-viver. Esse centro é revelador, é fantástico, e escroto. É o oposto de tudo, contendo tudo de tudo.

Eu vivo, há cinco anos. E a cada dia vejo uma vida submundana diferente, numa experiência cotidiana que só a coragem e a ausência do medo da selvageria de pedra podem me gerar. Não tenho medo dos monstros e entidades mundanas da urbe cotidiana. Justo eu: pura, meiga, doce, pequena, menina, santa, frágil, sensível. Nada, não. Mudei. Vi a cidade. Descobri a polis metropolitana.

Às 22:30, mais ou menos, do dia depois da abolição, saindo do trabalho, respirando o cotidiano submundano de uma gente ainda escravizada, que ainda insiste em viver, no centro de tudo.

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