quinta-feira, 3 de abril de 2014

Dia de Lenine.

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As famílias reunidas mostravam o domingo do churrasco, na rede, no parque.
As crianças, a bola, os gritos, as risadas.
Era um parque, com um clube.
Coisa difícil de se ver na metrópole de terceiro mundo.
Não. Existe, e eu vi.
Vi o cotidiano daquelas pessoas mergulhadas no justo lazer depois de seis dias de martírio e labuta.
Do outro lado, o som, as notas puras, inocentes, doces e agudas dos violinos.
Sinto.
Não tenho adjetivos.
Não há adjetivos para a linguagem universal da música.
Mas a mim também faltam...
As notas estridentes dos cellos, tambores e trombones.
A percussão vibrava.
E ele.
Ele estava lá.
Não no meio, um pouco mais ao lado, no meio.
Forte, imponente, inconfundível, ahhh...
Para fazer meu coração pular, querer sair pela boca, apertar doído de sentir tanto.
Estava ali...
De graça, no parque, para o povo.
Rico, pobre, preto, índio ou branco, periférico ou da nobreza.
Estavam lá, todos, em um único coro pedindo “... um pouco mais de paciência“, e clamando “... até quando o corpo pede um pouco mais de alma, eu sei, a vida é tão rara...“.
Ali.
Um domingo, no parque.
Estava frio, como que para nos fazer ficar mais com nós mesmos e em nossa calma, nossa alma, mais serenos, como o sereno que caía.
As famílias com os seus aos risos, ele lá, encantando o mundo com sua voz estrondosa e seu requebrado excitante, e eu...
Eu estava, enfim, estava.
Simplesmente estava, e respirava.
Tudo o que eu queria era sentir.
Buscar dentro de mim um pouco mais de alma, um pouco mais de calma.
E me encontrar.
E, só, que restava?
Chorei.
Sorri novamente, acabou, levantei, e segui, sentindo.

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