60 dias de Paris. De fato, a baguete é algo interessante, no mínimo.
Nesses dias eu fui a um "petit dîner" com alguns colegas franceses. Perguntei sobre o que eles precisavam e então disseram que era para eu levar algo para "manger ou boire".
Mas era feriado. Por sorte, o supermercado do lado de casa estava aberto. Mas já era início da noite, faltava pouco para o horário do "petit rendez-vous", e eu pensando sobre o que eu levaria. E me veio à luz a brilhante ideia: vou levar uma baguete. Todo mundo come, nunca sobra, e custa somente 0,59 centavos.
Pois, foi natural: como na maioria dos botecos, pubs, bares e restaurantes parisienses, a tábua de frios é composta por queijos, presuntos defumados de todos os tipos, salames, mais queijos, e uma variedade de patês completamente desconhecida para mim.
Fui ao "supermarché", direto na bagueta. Passei na outra sessão e apanhei uns queijinhos em cubos. Passei em frente a uma coluna com uns patês e vi lá o "pâté au canard", por 1,58. Tipo isso. Catei tudo e fui-me embora pra p'tit baladinha. Eis que chego, a minha anfitriã pega a baguete logo após me cumprimentar e enquanto falo com os demais da reuniãozinha, lá vem a moça com um pratinho cheio daquelas rodelinhas de pão.
Tinha um monte de coisa na mesa. Um monte de comida. Eu levei um suco, mas definitivamente entendi que o vinho é a bebida mais comum. Até antes de eu ir embora, o pão foi o primeiro a quase acabar.
Bem, essa é uma observação boba, mas que, para se compreender uma nova cultura, ela está cheia de pleno significado.
Aqui eu já consigo entender tudo o que todos dizem, e tudo o que leio. Falar ainda é o grande problema. Mas, como uma ex-professora de francês, e nativa daqui, disse para mim: Saia da toca e aprenda com a vida. Você não precisa muito mais do que isso.
En fait, algumas expressões são belíssimas:
- Je vous en prie;
- Bonne journée;
- Bon courage.
A ideia de que franceses são estúpidos, arrogantes, grosseiros e mesquinhos se desconstruiu totalmente para mim. Até o presente, todos os meus esforços em me integrar à cultura local têm sido totalmente reconhecidos. De modo extremamente natural. Por todos os franceses com quem me deparei até o momento. Simpatia, inclusive, tenho encontrado aos montes.
Outra observação: em Paris o tempo é extremamente lento. Existe hora para tudo. Absolutamente tudo está no seu devido lugar, e horário. Mas esse mesmo tempo passa. E passa MUITO rápido. Porque o tempo é composto por tarefas cotidianas organizadas, então cada hora é para uma coisa, e, com isso, não há, digamos, tempo que divague...
Os dias mais curtos e as noites mais longas de outono e inverno também contribuem com essa sensação de que tudo passa mais rápido.
Paris é uma metrópole. Mas a tradução de cidade para o francês é ville. E é exatamente isso: Paris é uma vila. Uma cidade pequena com uma estrutura gigantesca de uma metrópole. É uma vila daquelas pequenas, charmosas, esbeltas, em que você cumprimenta o padeiro do centro ao bairro.
Engraçado que em 60 dias aqui, já me dei de cara com as mesmas pessoas no metrô, no mesmo horário de expediente. Pessoas que não conheço, óbvio, mas que saem para a sua journée no mesmo horário que eu e pegam a mesma linha.
Eu sinto saudade, muita saudade de casa. Mandei postais para os mais próximos e meu coração bateu tão, mas tão forte de alegria quando fui recebendo as mensagens dessas pessoas sobre o recebimento das cartinhas. Me disseram "Lu, obrigada por se lembrar da gente", ou então "Lu, obrigada pelo gesto. Muito lindo da sua parte". E é isso: o carinho, o cuidado.
Isso faz com que eu me sinta ainda mais forte.
Não é fácil. Não é nada fácil ficar longe do namorado, dos pais, do irmão, dos familiares e amigos, do calor, da casa, da comida, do aconchego. Dá vontade de chorar de saudade todos os dias. Andando na rua, vendo tanto lugar lindo, com tanta vontade de virar pra mãe e falar: olha só que coisa mais linda... Ou então de ver aquela paisagem deslumbrante e dar aquele abraço forte no namorado, dar aquele beijo, ou então pular no mano pra tirar aquela foto. Dá vontade de chorar quando penso nisso.
Por outro lado, essas pequenas percepções do cotidiano me mostram o quanto uma experiência como essa que estou tendo é válida. Isso de conhecer o outro, de apreender o novo cotidiano, de tocar a cultura nova para você com cuidado, com atenção, de absorver naturalmente, de perceber de repente que você está imerso, isso é algo que não tem como descrever. Não tem preço também não.
Por isso eu sou grata. Eu fico fadigada, cansada, com dificuldades em me locomover por causa do frio, por causa do idioma... Mas a cada dia vencido, para mim, é um ganho, é um dia a mais no meu histórico de experiências, e um dia a menos para a volta, quando vou contar e recontar essas histórias para os que estão perto.
Nesses dias eu fui a um "petit dîner" com alguns colegas franceses. Perguntei sobre o que eles precisavam e então disseram que era para eu levar algo para "manger ou boire".
Mas era feriado. Por sorte, o supermercado do lado de casa estava aberto. Mas já era início da noite, faltava pouco para o horário do "petit rendez-vous", e eu pensando sobre o que eu levaria. E me veio à luz a brilhante ideia: vou levar uma baguete. Todo mundo come, nunca sobra, e custa somente 0,59 centavos.
Pois, foi natural: como na maioria dos botecos, pubs, bares e restaurantes parisienses, a tábua de frios é composta por queijos, presuntos defumados de todos os tipos, salames, mais queijos, e uma variedade de patês completamente desconhecida para mim.
Fui ao "supermarché", direto na bagueta. Passei na outra sessão e apanhei uns queijinhos em cubos. Passei em frente a uma coluna com uns patês e vi lá o "pâté au canard", por 1,58. Tipo isso. Catei tudo e fui-me embora pra p'tit baladinha. Eis que chego, a minha anfitriã pega a baguete logo após me cumprimentar e enquanto falo com os demais da reuniãozinha, lá vem a moça com um pratinho cheio daquelas rodelinhas de pão.
Tinha um monte de coisa na mesa. Um monte de comida. Eu levei um suco, mas definitivamente entendi que o vinho é a bebida mais comum. Até antes de eu ir embora, o pão foi o primeiro a quase acabar.
Bem, essa é uma observação boba, mas que, para se compreender uma nova cultura, ela está cheia de pleno significado.
Aqui eu já consigo entender tudo o que todos dizem, e tudo o que leio. Falar ainda é o grande problema. Mas, como uma ex-professora de francês, e nativa daqui, disse para mim: Saia da toca e aprenda com a vida. Você não precisa muito mais do que isso.
En fait, algumas expressões são belíssimas:
- Je vous en prie;
- Bonne journée;
- Bon courage.
A ideia de que franceses são estúpidos, arrogantes, grosseiros e mesquinhos se desconstruiu totalmente para mim. Até o presente, todos os meus esforços em me integrar à cultura local têm sido totalmente reconhecidos. De modo extremamente natural. Por todos os franceses com quem me deparei até o momento. Simpatia, inclusive, tenho encontrado aos montes.
Outra observação: em Paris o tempo é extremamente lento. Existe hora para tudo. Absolutamente tudo está no seu devido lugar, e horário. Mas esse mesmo tempo passa. E passa MUITO rápido. Porque o tempo é composto por tarefas cotidianas organizadas, então cada hora é para uma coisa, e, com isso, não há, digamos, tempo que divague...
Os dias mais curtos e as noites mais longas de outono e inverno também contribuem com essa sensação de que tudo passa mais rápido.
Paris é uma metrópole. Mas a tradução de cidade para o francês é ville. E é exatamente isso: Paris é uma vila. Uma cidade pequena com uma estrutura gigantesca de uma metrópole. É uma vila daquelas pequenas, charmosas, esbeltas, em que você cumprimenta o padeiro do centro ao bairro.
Engraçado que em 60 dias aqui, já me dei de cara com as mesmas pessoas no metrô, no mesmo horário de expediente. Pessoas que não conheço, óbvio, mas que saem para a sua journée no mesmo horário que eu e pegam a mesma linha.
Eu sinto saudade, muita saudade de casa. Mandei postais para os mais próximos e meu coração bateu tão, mas tão forte de alegria quando fui recebendo as mensagens dessas pessoas sobre o recebimento das cartinhas. Me disseram "Lu, obrigada por se lembrar da gente", ou então "Lu, obrigada pelo gesto. Muito lindo da sua parte". E é isso: o carinho, o cuidado.
Isso faz com que eu me sinta ainda mais forte.
Não é fácil. Não é nada fácil ficar longe do namorado, dos pais, do irmão, dos familiares e amigos, do calor, da casa, da comida, do aconchego. Dá vontade de chorar de saudade todos os dias. Andando na rua, vendo tanto lugar lindo, com tanta vontade de virar pra mãe e falar: olha só que coisa mais linda... Ou então de ver aquela paisagem deslumbrante e dar aquele abraço forte no namorado, dar aquele beijo, ou então pular no mano pra tirar aquela foto. Dá vontade de chorar quando penso nisso.
Por outro lado, essas pequenas percepções do cotidiano me mostram o quanto uma experiência como essa que estou tendo é válida. Isso de conhecer o outro, de apreender o novo cotidiano, de tocar a cultura nova para você com cuidado, com atenção, de absorver naturalmente, de perceber de repente que você está imerso, isso é algo que não tem como descrever. Não tem preço também não.
Por isso eu sou grata. Eu fico fadigada, cansada, com dificuldades em me locomover por causa do frio, por causa do idioma... Mas a cada dia vencido, para mim, é um ganho, é um dia a mais no meu histórico de experiências, e um dia a menos para a volta, quando vou contar e recontar essas histórias para os que estão perto.
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