sábado, 6 de março de 2010

HOJE DE MANHÃ


Hoje de manhã eu vi a
Morte, ela estava no cruzamento da Teodoro Sampaio com Fradique Coutinho. Naquele momento eu assisti ao encontro da Barbárie com a Pressa.

Hoje de manhã eu vi a pressa, correndo pela Fradique Coutinho no seu carro preto. Queria ultrapassar, queria avançar, mesmo que destruísse tudo que estava a sua frente; mesmo causando a sua própria destruição.

Hoje de manhã eu vi a Humanidade. Caminhava pela Teodoro tranqüila, atravessou a Fradique sem perceber que a Pressa estava chegando.

Hoje de manhã eu vi o Desespero, dentro do lotação, anunciado pelo grito de horror. As mãos dos passageiros que cobriam o rosto. O nervosismo que tomou conta do meu corpo. As minhas pernas, que tremiam. Meu coração acelerado. Da janela observei pessoas que corriam, queriam ajudar. Então, sentada no último banco, mesmo com medo, me levantei.

Hoje de manhã eu vi a Vida, indo embora. Ela se arrastava pelo chão, presente no sangue que manchava o branco da faixa de pedestres. Foi tão rápida! Deixou os seus pertences, celular no chão, a bolsa Louis Vuitton, colares, pulseiras, o dinheiro da carteira.

Hoje de manhã eu vi a Morte, quando aquela moça atravessou na faixa de pedestre e o homem atrasado no seu carro preto ultrapassou o farol vermelho. A pancada derrubou-a, o pescoço pendeu para trás, joelhos dobrados, olhos fechados, alguém falou, Ela morreu.

E, naquele momento, enxerguei a degradação dos valores humanos. Para alguns, a vida vale pouco ou quase nada. Enxerguei naquela moça as pessoas que lutam, sonham e atravessam todos os dias na faixa da Esperança. Mas que a pressa, a cobiça, imediatismo, a irresponsabilidade atropelam todos os dias na Rua do Respeito Pelo Ser humano.

Hoje de manhã eu chorei. Vi a moça morrer.
Enxerguei que dentro dela
tinha um pouco de mim.
Dentro dela tinha um
pouco de nós e
da nossa
Espe
ran
ça.


Mafuane Oliveira
12/09/08

Um comentário:

Luciana Borges disse...

Acho que não existiria descrição mais perfeita...